Um seguro mais barato para automóveis está menos distante de se tornar realidade em meio a ajustes na resolução que regulamenta o setor. Recentemente, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) alterou uma resolução para incluir a possibilidade de uso de peças similares às fabricadas pelas montadoras, mas sem a logomarca, no reparo de carros acidentados.
As modificações no normativo foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) em reunião no dia 28 de setembro. Na versão anterior, a resolução previa apenas uso de peças recuperadas. Segundo a diretora de supervisão de conduta da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Helena Mulim Venceslau, as modificações foram necessárias diante da possibilidade de uma escassez de peças exclusivamente de desmontagens para reparar os veículos acidentados.
As seguradoras ainda esperam mudanças adicionais para que novos produtos sejam lançados.
“Mesmo que desmontasse todos veículos usados, não teria peças suficientes vindas de colisões parciais”, diz Fabio Frasson, superintendente de negócios auto da Porto Seguro.
Ele diz que com a nova regra as seguradoras poderão recorrer a peças com as mesmas características das usadas pelas montadoras, mas sem logomarca, barateando o custo. Por sua estimativa, o seguro poderia ficar até 30% mais barato. “O seguro é hoje composto por uma série de variáveis para cálculo do preço e estimamos redução de até 30% para o consumidor final. Essa é a grande proposta de valor de inclusão securitária”.
A primeira versão da norma começou a vigorar em abril, focada em veículos com mais de cinco anos de uso. A norma previa a utilização de peças provenientes de empresas de desmontagem para reparo dos veículos, o que foi possível a partir da Lei 12.977, de maio de 2014, que regulamentou os desmontes. A cobertura mínima do seguro deveria compreender a garantia de indenização por danos causados ao veículo por colisão, sendo vedada a oferta de cobertura que preveja apenas a indenização integral por colisão.
Esse seguro, apesar de ter como principal clientela os carros fabricados há mais de cinco anos, não é restrito a essa parcela da frota nacional. Qualquer segurado poderia optar pelo novo produto, desde que seja avisado que os reparos serão feitos com peças usadas ou seminovas. A primeira versão do normativo também previa que essas peças não poderiam ser usadas quando for envolvida a segurança dos passageiros, como o sistema de freios, suspensão, cintos de segurança, entre outros.
“A partir da primeira publicação, a Porto Seguro começou a se movimentar, pois entendíamos que não se tornaria realidade sem essa alteração (inclusão do uso de peças sem a logomarca e não só peças de reuso). Com a regulamentação recente, imaginamos em 2017 lançar produto voltado para os consumidores que ainda não têm seguro”, afirma Frasson.
O grupo segurador Banco do Brasil e Mapfre aguarda mudanças adicionais. De acordo com o diretor de produto de automóvel, Sérgio Barros, o ajuste foi um passo na direção certa, mas ainda não é suficiente. Segundo ele, é necessário dar uma definição mais clara sobre o direcionamento do carro para oficinas.
Hoje, não está definido se a seguradora pode direcionar o concerto do carro, o que poderia anular a economia com o uso de peças usadas ou sem logomarca.
“O cliente tem livre escolha de qual oficina vai levar o carro para consertar e pode escolher a oficina da concessionária, que sempre vai usar peças com logomarca. Se criar um produto que diz que o cliente terá o benefício financeiro se aceitar usar peças sem logomarca, a vantagem morre na hora que escolhe uma concessionária para o conserto”, explica Barros. “É preciso deixar claro na circular que o cliente vai ter o veículo reparado com peças sem logomarca ou usadas e que permita à seguradora direcionar à oficina”.
A diretora da Susep, Helena Venceslau, diz que essa é uma questão simples de ser resolvida e que a superintendência trabalha em uma carta circular para esclarecer a questão.
“Isso só não se operacionalizou ainda por questão de tempo. Nesta semana pode já estar pronto”, afirma.
Fonte: Valor Econômico